Esse episódio parece a letra de “Construção”. Ruby é a protagonista que caiu morta “atrapalhando o público” depois de ousar dizer seu nome, embora ninguém se interessasse. Não adiantava mais assumir identidade, sonhar com a liberdade da aposentadoria, alimentar qualquer esperança. Na realidade massacrante, fora das histórias que adoramos assistir pra ver um final feliz ou ao menos alguma justiça poética nessa selva de pedra, é isso que acontece tantas e tantas vezes. É mais triste ainda quando lembramos que as amigas não se despediram. Mas se desencontraram muito antes de Eileen deixar as ruas... a distância é histórica. E muito me agrada que isso tenha sido anunciado sutilmente no correr dos episódios, para deixar uma mensagem mais evidente nessa finale: The Deuce está mais atenta do que pareceu à realidade e à conjuntura que mistura negros e brancos, mulheres e homens em um ambiente inegavelmente mais árido para uns que para os outros.

Apesar de ficar bem evidente como a desigualdade se sistematiza naquele contexto, as personagens que parecem mais estranhas àquilo tudo são justamente Eileen e Abby. E não é à toa. Elas só estão ali porque se revoltaram com a bolha que as prendia, não porque aquele caminho lhes era praticamente inevitável. Provêm, as duas, de outra camada, de outros limites. Tanto que são o mais próximo que temos de “heroínas” destinadas a prosperar. Ao contrário de Sandra, decepcionada com sua matéria reduzida a mostrar sujeira onde todos já sabiam que existia, exploração por quem todos já conheciam. No meio de tudo isso, apesar de parecer que os iguais não se ajudam, principalmente quando Alston, seduzido pela promessa de ascensão, frustra os planos de Sandra, é provavelmente deles que virá mais uma tentativa de reviravolta. Transformação é improvável, pelo menos a curto e médio prazo. E parece que David Simon é especialista em mostrar que o sistema devora as esperanças disso, ainda que elas insistam em nascer.

Eileen dirigindo foi o que a gente pediu sim

A Ruby morrendo :c eu nem entendi exatamente o porque aquele fodido matou ela, mas me pareceu algo como se fosse contra o cafetão dela, alias, esse episódio todo mostrou como todas elas estão a mercê dos cafetões, seja Lori não fazendo o que ela quer, seja o aquele fodido deixando a Barbara presa sem nem pagar a fiança, mas essa morte dela me deixou tão triste por que ela era tão alto astral e chega me dava pena que ela ainda tinha que se submeter aquilo por não conseguir algo diferente por ser uma big girl.

Essa construção do Vincent me deixa muito atento, foi bem como Abby pontuou ali, ele meio que está indo pro outro lado aos poucos e não sei como isso casa diretamente com a trama do pornô, mas a construção é linda.

E Candy MEU DEUS DO CÉU, a cena dela com o irmão foi tão heartbreaking, mas eu amei tanto essa mulher tomando a direção dos filmes e fazendo isso muito bem.

Assim como em The Wire, The Deuce forma várias diferenças nas histórias de personagens que se encontram em situações parecidas, assim como Ruby e Eileen estavam até alguns episódios atrás. Eileen, mesmo levando uma surra, teve a sorte de sobreviver e de desenvolver um interesse além da prostituição que, por consequência, acabou a salvando, até pela sorte que teve em entrar no ramo quando a pornografia começou a ser reconhecida por premiações e exibições em salas de cinema. Ruby infelizmente não teve a mesma sorte já que, seus status de big girl não a fez ser requisitada para os prostíbulos onde poderia ter algum tipo de proteção.

O que acontece com ela também mostra como cafetões não são tão valiosos quanto parecem. Diferente de C.C. que salvou Lori um tempo atrás, Rodney não fez o mesmo. Na realidade, os cafetões geralmente nunca evitam nada, apenas dão o troco. A morte trágica da Ruby é a maior prova de que prostituição é um trabalho perigoso independente das condições ou do tipo de proteção que você tem. É foda ver ela sendo morta só por defender que é uma pessoa muito mais do que sua faceta de prostituta.
E aquela frase do Vince, sobre ele gostar de mulheres, mas aquilo é o The Deuce é de cortar o coração. As pessoas já estão tão acostumadas com isso que acabam sendo frias, pensando em outras coisas, como o letreiro. Abby e Alston reagem de outra forma por não fazerem exatamente parte daquele mundo. Pelo menos me senti um pouco vingado por Alston socando C.C.

Falando em Alston ele, assim como Sandra, foi outra parte maior da história, numa linha tênue em relacionamento e fonte. É um pouco triste que a relação deles terminaram desse jeito, mas é compreensivo como Sandra sente ao ver que sua matéria não apresentou o potencial que tinha. E eu fico meio desconfiado se esse novo cafetão quer realmente limpar a casa ou está apenas tentando manter Alston do seu lado para que ele não possa atrapalhar.

Candy é obviamente a personagem que mais evoluiu na trama já que sempre foi a que teve o objetivo melhor especificado, além do Rudy que quer sempre fazer negócio and shit. Senti uma alegria com ela tomando posse da direção e explicando o conceito de ação para o operador de câmera. E devo admitir que gosto do Harvey. Ele é bem sincero e, mesmo relutante de início, acabou abrindo as portas para Eileen.

Tirando a morte inesperada de Ruby, os momentos que mais fiquei tenso foi as cenas com Vince. Sempre vou achar tenso um personagem tentando ter uma vida honesta e tendo que navegar em relacionamentos com a máfia. Obviamente que os negócios de sexo e a violência o incomodam, porém, quando precisou dar uma lição no cara que atacou sua ex, foi bom ter a máfia como proteção. É um daqueles momentos onde o personagem faz algo só porque pode e que pode dizer muito do futuro dele mais pra frente.

The Deuce estreia como uma temporada segura, que sabe onde quer chegar, mesmo que não entregue todo o jogo desde o início como a maioria das história do Simon (o que causa reclamações para quem inicia e os que ficam até o final são recompensados). Souberam ilustrar bem os perigos de ser prostituta, o quanto elas são mal tratadas pelos cafetões e o questionamento em torno do porque escolheram a profissão, assim como a corrupção dentro da polícia e o crescimento da indústria pornô.
Como é bom estar vivo para ver uma série atual do Deus Simon.

Ps 1: Clarke Peters aparecendo foi uma das maiores surpresas do episódio. Eterno Cool Lester Smooth.
Ps 2: Paul ganhou tanta atenção nos últimos episódios e nenhuma cena de destaque nesse aqui. Estranho.
Ps 3: Digo o mesmo da Darlene que acabou perdendo espaço nos últimos episódios.

Season finale incrível de uma grande temporada, eu achei toda a morte da ruby mto triste, desde a Candy passando por ela até o desfecho mostrando que a vida delas não vale nada mesmo, os caras discutindo o letreiro do bar, o cafetão fingindo q nem conhece, o outro fazendo piada, enquanto a vida dela tinha sido ceifada, episodio bem pesado. Mto boa a temporada até aqui, é que o tema não é mito propício pra premiações conservadoras hollywoodianas, mas a Maggie Gylenhaal está destruidora demais, tinha q vir forte pro Emmy, não só indicada como uma das favoritas.