Escrito por: Pedro Rubens
Não é de hoje que séries e filmes protagonizados por mulheres tem se destacado. Da mesma forma, temos acompanhado uma grande popularização em produções asiáticas. Somando essas duas fórmulas e delimitando três linhas temporais, nasceu em 2017 o livro de Min Jin Lee e mais recentemente a sua adaptação para as telinhas.
Pachinko, série original Apple TV+, narra a história de quatro gerações de uma mesma família. Desde o período que antecede o nascimento de Sunja, a peça central da série, passando por todos os meandros até chegar nos dias atuais, na sua velhice.
Impecavelmente ambientada em todos os períodos que se propõe, o design de produção de Pachinko consegue transmitir de forma irretocável os aspectos históricos, bem como, as características locais, seja do Japão do início dos anos 1900 ou de 2021. Essa é a porta de entrada para uma série que, em meio à dor, consola e revigora o coração dando ânimo e forças para perseverar.
Afinal, é sobre esperança e perseverança a abordagem principal do roteiro que tem estruturas narrativas complexas, diálogos extensos e por vezes até densos, mas que não se tornam, em momento algum, cansativos e nem tampouco fora de ritmo. Tudo se entrelaça formando uma obra de arte gigante!
Contar uma história que tenha um arco complexo, desde o casamento dos pais da sua protagonista até os seus dias na velhice, permeando por mais de um século, encaixando períodos da história como a migração de inúmeros coreanos para o Japão, o desenvolvimento do cristianismo em solo japonês ou até o terremoto de Kanto, não deve ser tarefa fácil. Mas Pachinko é visceral.
Dos primeiros minutos do piloto, quando tudo ainda é novidade e você conhece os pais de Sunja, até a cena final em que o presente se mostra completamente ligado ao passado, tudo é narrado de forma dolorosa mas ao mesmo tempo esperançosa. Talvez a fórmula que faz a série funcionar tão milimetricamente seja exatamente esta: se utilizar da força dos personagens que conduzirão a história.
A direção da série é irretocável, o design de produção desempenha papel fundamental na ambientação do Japão em todos os respectivos períodos, a escalação do elenco é certeira e a direção de fotografia sabe perfeitamente bem como desvincular uma linha temporal da outra, mostrando ao público a mudança mas ao mesmo tempo fazendo-o entender que tudo faz parte da mesma história.
Não bastasse tudo isso, a abertura da série fala por si só. Começando como um álbum de fotografias e finalizando com a união dos personagens de todos os períodos, fazendo uma grande ovação à obra e ao idioma, dado que a música da abertura vai mudando para o japonês ao passo que os episódios vão avançando.
E por falar em idioma, a reverência não fica apenas na abertura mas vai além e finalmente temos uma série falada em japonês, coreano e inglês. Para fazer a diferenciação entre ambos, cada um é destacado na legenda por uma cor diferente e aqui fica mais um ponto positivo da série: durante os diálogos fica evidente que mesmo falando japonês, vez ou outra, alguma palavra coreana ainda está no seu vocabulário e isso enriquece ainda mais a história.
Pachinko, sem sombra de dúvidas, foi uma das gratas surpresas de 2022 e tem muito a ensinar, seja sobre como produzir uma série, contar uma história ou até pela própria história dos personagens. De fato, aqui vemos a perfeita união de mulheres asiáticas, fortes, perseverantes e que esperavam contra a esperança. Viva Pachinko!
Nota: 9.06