Escrito por: Pedro Rubens
Já tornou-se habitual ouvir de inúmeras pessoas que a produção nacional não é boa. As frases “Os filmes brasileiros não prestam” e “As séries nacionais não são boas” já foram adotadas de vez no dialeto do público interno, que prefere na maioria das vezes assistir produções estrangeiras ao invés de consumir o produto nacional. Mas e quando o país decide encarnar uma produção nacional em outro idioma e contando uma história que se passa majoritariamente em outro país?
Passaporte para a Liberdade, nova série da Globo e a primeira filmada totalmente em inglês, segue a história de Aracy de Carvalho, uma jovem escriturária do Consulado Brasileiro em Hamburgo, Alemanha. Secretamente emitiu diversos passaportes, enviando judeus para o Brasil e salvando-os dos horrores dos campos de concentração.
Curiosamente, uma história tão inspiradora e linda como a de Aracy é tão pouco difundida nas escolas e confesso que me surpreendi e alegrei-me por conhecer essa mulher que motiva qualquer pessoa na busca pela justiça e pela ajuda ao próximo. Com certeza escolher adaptar essa brilhante personalidade brasileira foi um grande acerto da Globo.
Seguindo na lista de acertos, Passaporte para a Liberdade é extremamente bem ambientada. A aura dolorosa da Alemanha nazista se faz presente através dos estandartes com a suástica, enquanto a caracterização dos personagens oprime e evoca o que havia de pior naquele povo durante aquele período dolorosamente marcante.
O piloto cumpre muito bem seu papel de introduzir o contexto em que a protagonista se encontra, seja pela visita do próprio líder nazista ou pelos judeus que a procuravam na tentativa da liberdade. Esse ponto é algo que a série não deixa a desejar em absolutamente nada: o piloto sabe ser um piloto.
Mas, infelizmente, a série possui mais erros do que acertos. Decidir contar uma história muito boa e ambientar perfeitamente bem não é o suficiente para sustentar um roteiro simples, que parece não saber se aprofundar na história da protagonista.
As atuações são caricatas e sugerem uma produção de época, daquelas que a Rede Globo produz para exibir no horário das 18h. Atrelado a isso, tem o agravante que é o idioma… Os atores precisam consolidar atuação e a adaptação de falar um idioma diferente do seu com o máximo de naturalidade possível e nesse ponto vale a pena o destaque para Tarcísio Filho que fala como um nativo, enquanto os outros não escondem as dificuldades de falar organicamente o inglês.
A decisão de produzir algo como sendo a obra nacional, mas em outro idioma talvez tenha ocasionado o senso “americanizado” na série, que não sabe se é brasileira, estadunidense ou alemã. Existe uma enorme confusão, parece água e óleo.
Passaporte para a Liberdade tinha tudo para ser uma ótima produção, desde a decisão da história contada até o elenco que daria vida aos personagens. Mas abrindo mão de fazer o que sabe de melhor, ser brasileiro, opta por vestir a carapuça de uma dupla, ou tripla, nacionalidade e não chega a lugar nenhum. A única vantagem de tudo isso é que pelo menos assim teremos a intenção de procurar quem foi Aracy de Carvalho e tudo o que essa grande mulher fez por tantas pessoas!
Nota: 5.5