Escrito por: Pedro Rubens
Se você se propõe a contar uma história de investigação, haverá diversos caminhos a percorrer, mas dentre os mais comuns estão: 1) é possível apresentar quem será o sujeito investigado já no início da história e o desenvolvimento vir logo em seguida; 2) você pode optar por introduzir a investigação, mostrar o objeto principal mas só apresentá-lo por completo no desenvolvimento do arco. Em ambos os casos, é necessário ter um belo jogo de cintura para enfrentar as consequências que virão…
Jaguar, nova série espanhola da Netflix, segue a história de Isabel Garrido, uma jovem que presenciou os horrores da Alemanha nazista e conseguiu sobreviver ao campo de extermínio de Mauthausen. Durante os 20 anos que se sucederam desde o fim da guerra até o momento em que a série se passa, a personagem nutriu o desejo de vingança por Bachman, antigo aliado político e militar do führer.
A mecânica da série é básica, não existe incômodo nem estranheza em absolutamente nada durante a proposta do episódio. Pelo contrário, se houvesse uma lista de elementos que obrigatoriamente precisariam se encaixar e compor o piloto, Jaguar preencheria todos os pré-requisitos!
Todas as peças que compõem a série sabem se posicionar e colocam-se no seu lugar devido: a fotografia é belíssima e encontra na arquitetura hispânica a moldura ideal para seus takes, as atuações são incrivelmente bem trabalhadas e a direção é sensacional.
Por outro lado, as cenas de ação são bem coreografadas, porém ainda assim o corte brusco entre uma câmera e outra, mudando o ângulo da cena, faz com que o ritmo se perca e precise acelerar novamente para seguir de onde parou. A abertura é outro aspecto que não faz o menor sentido dado que basicamente é uma abertura de anime, com direito a animação e música muito semelhante às produções asiáticas.
Mas o ponto alto de Jaguar fica por conta da narrativa central muito bem trabalhada em um roteiro que não exige muito do espectador, mas que o envolve por completo. Durante os 41 minutos do episódio, somos apresentados à protagonista, porém só conseguimos entender o background que compõe sua história no final do episódio, mas mesmo assim a série consegue se sustentar durante todo o piloto.
O protagonismo feminino é muito bem fortalecido e, mesmo cercada por homens que estão no seu encalço, Isabel Garrido preenche cada milésimo de segundo que aparece diante das câmeras. Com uma atuação impecável e total entrega à personagem, Blanca Suárez mostra muito do seu potencial e promete entregar ainda mais durante os próximos episódios.
Jaguar chega sorrateira, mas com uma história inovadora e capaz de trazer de volta as intempéries que marcaram o cinema e as produções televisivas de investigação. Aqui estamos diante de uma produção que presta homenagem ao cinema noir, mas contextualiza com sua singular identidade, encontrando na quebra de expectativas o ponto chave para levar a história adiante.
Nota: 8,5