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Pra quem não entendeu o contexto da cena de sexo gay ou não entendeu o que aconteceu com Salim e o Ifrit na manhã seguinte, li uma entrevista dos diretores pro Hollywood Reporter e ficou mais claro depois que refleti. Meu comentário ficou meio grande mas juro que vale a pena.
Todo mundo já sabe que a série mostra o confronto entre os deuses em busca de adoradores; Bryan Fuller e Michael Green (assim como Neil Gaiman que escreveu o livro no qual eles se baseiam), já falaram que têm como objetivo mostrar a variedade cultural/social no mundo atual, principalmente em relação à imigração. Os Estados Unidos receberam gente de todo o canto, alguns forçados, como o episódio anterior mostrou com a cena do navio transportando escravos, e outros em busca de oportunidade, como aconteceu com Salim, que acabou se frustrando com a vida. Ele sorriu mesmo depois de horas sentado no escritório pra nada porque ele não vê o que poderia fazer além disso, mas ele tava claramente triste com isso. No táxi, ele e o Ifrit logo se identificam pelas suas origens e surge uma conexão profunda, que apesar de não ter acabado em "felizes para sempre" foi mais do que sexo. Além de carinho, tem ainda a questão central da série que é a crença. A cultura americana absorveu tudo sobre os jinns da mitologia árabe e resumiu algo muito complexo em algo muito simples. Existem dezenas de categorias de jinns, mas o que a gente aprendeu na TV é que são todos a mesma coisa, gênios da lâmpada. Ifrit é a categoria mais poderosa de jinns. Eles não concedem desejos e estão acima dos demônios e abaixo dos anjos na divisão celestial. Salim mostra que sabe o que é um Ifrit, por conta da história que a avó contava. Quando o Ifrit diz que não realiza desejos, Salim diz que realiza sim. Deixando as ambições individuais de lado, os dois estavam em situações estressantes, sendo esnobados (a mulher que entra no táxi ignora Salim e nem dá boa noite ao Ifrit, mostrando como as relações são frias); naquele momento todas as questões se encontraram e levaram os dois à noite de amor. O Ifrit realmente não concede desejos. O sexo não foi ritual de possessão nem nada. Eles dormiram juntos e o Ifrit foi embora antes de Salim acordar. Os dois precisavam de carinho e Salim tava cansado da vida dele. O Ifrit se mobilizou e deixou a identidade/habilitação e o táxi pra ele começar de novo. Como ele mesmo disse, se ele concedesse desejos ele não estaria dirigindo um táxi. Mas isso era um pouco melhor do que o emprego de Salim, então ele quis ajudá-lo, o que acabou sendo um "desejo concedido" no sentido de um "gênio da lâmpada". Voltando ao lado social e acabando de vez com as perguntas sobre por que o sexo foi importante, Fuller também disse que achou importante mostrar uma cena de sexo mais íntima pelo poder disso. Pessoas podem ser homossexuais independente da religião que domina o lugar onde vivem. Os homens do Oriente Médio vivem sob uma forte opressão para não terem relações homossexuais, o que leva os gays a terem momentos superficiais e pouco íntimos de amor, como "sexo oral em um beco." O primeiro impulso de Salim diante do outro homem foi se ajoelhar pra fazer isso que provavelmente era a única forma como ele se relacionava, mas o Ifrit beijou Salim depois disso e os dois foram além. Isso é MUITO importante além da série. São dois homens árabens, imigrantes, que cresceram sobre a doutrina do islamismo, tendo uma relação homossexual (que foi muito além de sexo/nudez explícita) na TV americana meses depois do Muslim Ban e os contínuos ataques do presidente dos Estados Unidos a diversas culturas do mundo. Então se alguém falar mal do sexo gay em American Gods ou em qualquer outra série, espero que esses argumentos iluminem o coração dessas pessoas. Amor e aceitação precisam ser mundiais, independente de gênero, cor ou condição financeira.
As matérias que eu li antes de escrever foram dos sites Screen Rant e Hollywood Reporter. Obrigado a quem leu tudo, gratidão.
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