Dando continuidade aos temas de trauma intergeracional e justiça com as próprias mãos (tão presentes no original) de forma mais fiel que a maioria das sequências para o cinema, o piloto de Freddy's Nightmares serve tanto como um prelúdio da obra-prima de Wes Craven, tanto como uma sequência/spin-off espiritual.

Aqui, os papéis são invertidos, e ao invés de acompanharmos jovens tendo que lidar com os erros dos pais, acompanhamos os próprios tentando salvar seus filhos, em uma Springwood onde Freddy Krueger ainda era um homem, e não o bicho-papão dos sonhos. Isso nos permite ter um vislumbre do passado da franquia de forma inédita, onde Freddy ao mesmo tempo que caça também é caçado, fortalecendo o horror urbano precedente ao terror lúdico e fantástico das sequências de sonhos recorrentes na franquia. Apesar disso, a fotografia da série banha Springwood em cores neon e sombras, permitindo um visual que, para uma série de televisão do final dos anos 80, chega a ser surpreendente. A série também utiliza de usos interessantes de pov para fazer o espectador enxergar o mundo através dos olhos do Retalhador de Springwood, em sequências que remetem as utilizadas na franquia Halloween e outros slasher mais "pé no chão".

As atuações não são lá grande coisa, mais esse quesito nunca foi o forte da franquia. Apesar disso, é claro que todas as cenas em que Robert Englund está presente como Freddy é uma alegria para os fãs, até mesmo na brega cena de assassinato no dentista, que mais remete as sequências mais cômicas que a obra de Wes Craven (o que acaba causando um pouco de estranhamento considerando o tom mais sério do restante do episódio).

De qualquer forma, com uma direção fantástica de Tobe Hooper, e seguindo as tradições e temas mais fortes do clássico de 84, o piloto de Freddy's Nightmares é um acerto em cheio (se consideradas as suas limitações como série de TV aberta e de orçamento baixo).