Samurai Jack ganhou o Emmy de melhor programa menor que uma hora por esse episódio concorrendo contra famosos como Simpsons, Bob Esponja e South Park. E, francamente, foi muito merecido porque, de todos os episódios de Jack até agora, esse é com certeza o mais épico e, possivelmente, o melhor trabalhado.

Esse episódio pode decepcionar algumas pessoas que esperariam uma explicação mais lógica ou, no mínimo, alguma explicação sobre as origens de Aku. O que temos é apenas uma grande massa preta do mal no espaço que, eventualmente, é combatido pelos deuses Odin, Ra e Vishnu (Nos comentários sobre esse episódio, Genndy Tartakovski explicou que preferiu usar três deuses já existentes invés de criar novos). Essa falta de esclarecimento não acho ruim porque é bacana pensar que Aku é apenas um mal que existia mas sem ter uma origem.

Quando ocorre a passagem do tempo - com a brincadeira de que Aku é quem exterminou os dinossauros ao chegar na Terra -, vemos o local que tornaria-se o Japão medieval e como aquela massa preta foi matando todas as pessoas que cruzavam o seu caminho, enquanto as terras eram devastadas. É aí que chegamos a uma história já conhecida, do Imperador preparando-se para exterminar esse mal.

Como é uma história conhecida que já sabemos o resultado, Genndy Tartakovski realmente pensou muito mais na experiência e no visual, o que já é normal no desenho, mas aqui toma outras proporções até por ter 42 minutos para exibir o conteúdo. Há uma sequência onde o Imperador e seu exército está cavalgando rumo à fonte que conduz o mal através do que parece ser árvores negras e seus homens vão desaparecendo um por um. Como Samurai Jack é um desenho que não pode mostrar sangue ou pessoas sendo mortas (o que justifica porque a maioria dos inimigos são robôs), a cena é muito eficiente em expor que o exército e seus cavalos estão sendo espetados e mortos pelas árvores, com o ângulo da câmera encarando para cima mostrando as árvores crescendo enquanto os efeitos sonoros do cavalo nos faz imaginar o que está acontecendo. É um momento que me impressionou porque prova que Genndy realmente sabe como contar uma história visualmente e ainda enganar os sensores para exibir algo, mesmo que fique pra nossa imaginação ver o exército sendo derrotado.

O episódio também tira uma boa parte para mostrar o quanto Aku é evil e realmente funciona já que é a primeira vez que o vemos matando pessoas, mesmo que não seja mostrado em tela. O humor do personagem também contrasta com o epicness do episódio.
Com os deuses criando a espada (e aparentemente não podendo influenciar na luta com o vilão, já que essa é uma luta para os humanos), o Imperador volta para seu reino numa nuvem voadora para combater a criatura.

Como esperado, o desenho dá um banho na batalha inteira (aquela parte quando ele pega o cavalo e vai parando os ataques do Aku aranha com a espada é ótima) e o destaque fica para a determinação do Imperador. Quando ele grita no meio da luta, empurra lanças contra o seu corpo de volta, continua lutando mesmo atingindo por várias flechas, olha... Que personagem badass, na real. E ainda assim, eles ainda conseguiram botar um pouco de humor com Aku pegando as armaduras, fazendo um exército de si mesmo e rindo até fazer uma expressão extremamente irritado com a situação. A risada de Mako é inigualável, na real.

Claro que no final o Imperador vence a batalha, mas não sem as custas de sua vila, seus homens e o pior é que ele apenas selou Aku dentro da Terra, o que dá a entender que a espada dos deuses não é poderosa o suficiente para matá-lo. Só de pensar que apenas alguns anos depois Aku se libertaria e faria ele trabalhar dia e noite girando uma estátua pelo resto da vida, o torna um herói trágico, um herói que teve pouco tempo para desfrutar de sua vitória. E claro que Jack nasce exatamente no mesmo dia que o vilão é derrotado, criando a importância do protagonista que nasce em meio a ruínas e o que o aguarda como o tolo samurai que pretende desfazer o futuro que é Aku.

Enfim, é um episódio duplo que acerta em praticamente tudo, contando uma história simples de forma épica que merecidamente ganhou o Emmy. Se a luta final entre Jack e Aku for nesse nível, já será uma baita experiência.