Seria mesmo cômico se não fosse trágico. Acreditem ou não (parece que não, pelas notas que a série recebeu aqui), essa realidade sufocante é muito mais comum do que se imagina. A série conseguiu sugerir a caricatura de um cansaço extremo (físico e mental) que promete se desenvolver para além disso, já que as implicações da mentira surgirão, cedo ou tarde, provavelmente suscitando questões urgentes em torno de nossa saúde e bem-estar. A cena em que fala do tumor e o marido passa mal ao invés de se controlar e se preocupar em ver como ELA está se sentindo ilustra muito bem o que se espera das esposas e mães: que sejam o pilar, aquelas que suportam tudo, daquelas de quem sempre se espera assistência.

A denúncia contra esse discurso que se preocupa em desconstruir tudo, mas não se ocupa efetivamente diante da sobrecarga da dona de casa com sua dupla (às vezes até tripla) jornada deve ser propagada mesmo, evidenciando a hipocrisia de quem grita contra as instituições burguesas (justo), mas usa isso mais para garantir um lugar confortável ao encarar sua própria consciência que para agir contra as estruturas de opressão.

Impossível não lembrar da história de Breaking Bad e fazer uma comparação evidente, sobre como o homem exagera sua própria importância ao ponto de achar que é o provedor fundamental, enquanto a mulher está tão ciente de seu papel quanto do fato de não ser reconhecida e, nesse caso, age para que se tire um pouco de seus ombros o peso disso. E a fotografia me lembrou um pouco de Doctor Foster.

Um ponto que enfraquece um pouco é que, assim como na família retratada, a impressão que o piloto deixa é a de que a esposa levará a série nas costas. Espero que os outros personagens se desenvolvam melhor no decorrer.

Tentando compreender o porquê das notas tão baixas.
Talvez as pessoas tenham achado a série meio "galhofa" por eles retratarem tudo de uma forma meio cômica, meio caricata. Mas eu enxerguei de outra forma.
"Seria cômico se não fosse trágico."
Isso é mais comum do que se imagina. Cada vez mais, mulheres sobrecarregadas, dando conta de tudo e de todos, aturando um emprego ruim, um chefe péssimo, a desvalorização dentro da própria casa e vindo das pessoas por quem ela se doa o tempo todo. Parece absurdo, quando pensamos que vivemos num mundo onde as mulheres já conquistaram sua independência, podem trabalhar fora etc etc mas mesmo com toda essa "modernidade", elas ainda carregam o fardo de ter que dar conta de tudo pela família.
A cena em que ela diz "Eu tenho que sustentar 4 filhos, não tenho tempo para pensar muito" me tocou muito, pois é isso. Se vc tem responsabilidades, vc não tem tanto poder de escolha assim. As mulheres geralmente tem consciência do que precisam fazer e sabem o quanto estão abdicando da própria vida. Imaginem quão sufocante isso deve ser.
E quando ela fala sobre o câncer e o marido tem um troço... vcs percebem como mesmo nessa situação absurda, ELA é quem teve de acalmar o marido, e não o contrário? Até nesse momento a atenção foi voltada a outra pessoa, e não NELA. Esses detalhes que me fazem pensar no quanto ainda vivemos num mundo totalmente injusto conosco.

Gregorio Duvivier?

gostei

Confesso que fiquei um pouco impressionada com esse piloto. O roteiro foi bastante balanceado mostrando não só a vida da protagonista, mas também a das pessoas ao seu redor. Acredito que isso vá fazer bastante diferença quando for mostrar como as atitudes da protagonista irão influenciar os demais. Além disso, a trilha sonora e a fotografia estão excelentes.

Vou continuar com muito gosto!