Escrito por: Pedro Rubens
Em uma das suas músicas mais famosas, Gilberto Gil fala:
“Subo nesse palco, minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê, de bebê”
O próprio compositor fala que essa seria daquelas composições feitas para se despedir dos palcos e por isso a relação de que a pureza da sua alma se comparava ao cheiro do talco, que traz conforto e sensação de paz. Que bom que essa despedida dos palcos nunca aconteceu e que essa mesma pureza acontece para além deles, como por exemplo na sua docussérie Em Casa com os Gil.
Em cinco episódios a nova produção do Prime Video nos permite participar da reunião de família em comemoração aos 79 do ícone da música brasileira Gilberto Gil. Não apenas com a prerrogativa de comemorar a nova idade, mas também de reunir-se com os seus e decidir os rumos da turnê europeia chamada “Nós”.
A montagem dos episódios e o fio condutor vão permeando entre momentos específicos nos quais a estrela principal conversa de forma isolada e momentos em que a sala está cheia e conversa com todos. A maneira como a edição nos permite imergir naquele momento é como se, ao dar play no primeiro episódio, recebêssemos um abraço do aniversariante e um convite para nos assentarmos junto com todos ali.
A estética documental é muito mais presente do que o aspecto de reality, como pode soar para alguns, afinal estamos vendo a família Gil se reunindo para decidir uma turnê! Talvez por isso tudo soe completamente convidativo e deixe o espectador com o desejo de ser um dos muitos sortudos que poderão presenciar os mais de 10 shows na Europa.
A curadoria para decisão das músicas que irão compor a setlist é de primeira mão, passando por clássicos como Andar com fé, de 1982, até músicas mais recentes, e também não tão famosas assim, como Não tenho medo da morte, de 2008.
As justificativas de cada filho, genro, nora, neto e bisneto ao escolher suas músicas são traduzidas com muita emoção e demonstram o amor ao genial compositor de cada uma delas. A ideia de apresentar a música escolhida enquanto complementa com a história por trás da escolha e o ensaio dela é algo que torna tudo mais dinâmico.
Em Casa com os Gil nos permite conhecer mais a fundo a personalidade e história não apenas do patriarca e tudo o que precisou enfrentar por ser negro, artista e lutar pelos seus ideais, mas também vê-lo como um pai que ainda discute futebol com seus filhos e netos. Aprender sobre seu contexto familiar é um deleite que podemos experimentar por cinco episódios recheados de muita emoção. Confesso que chorei em todos, desde já peço perdão se for necessário!
Mas a homogeneidade da família Gil permite que o público aprenda diversas questões e essa também é a ideia da série. Conforme dito na coletiva de imprensa, a mistura de todas aquelas pessoas em uma só família, aceitando as diferenças, abraçando a diversidade e sem medo de agir assim na frente das câmeras que os seguiam é uma característica deles e isso precisa ser ensinado.
A série não deixa de nos apresentar o lado religioso da família Gil. A fé tão cantada, afinal ela não “costuma faiá”, é um dos muitos laços que os une e, tendo ela seu momento de apresentação e protagonismo durante o último episódio, percebemos que aquele é também um ato de resistência!
Em Casa com os Gil chega completa ao catálogo do Prime Video na próxima sexta-feira, dia 24, e te convida a sentar-se junto com essa família tão diversa, amável e disposta a nos ensinar tanto sobre tantas coisas, mas principalmente sobre como ser humano de verdade. Viva Gil!
Nota: 8.4