Escrito por Tom Carvalho
Se você é um fã de séries informado deve ter percebido um notável crescimento em produções “urbanas” na televisão. De cabeça, eu posso destacar Insecure, I May Destroy You, Power, Run the World, Wu-Tang, e eu até colocaria na lista Lovecraft Country. O termo “urban”, (traduzido para o portugues de uma forma muito simplista como “urbano”) surgiu na decada de 70 como uma forma de classificar e criar um gênero específico para o que na época parecia inapropriado ser chamado de “black” (negro/preto) e não demorou para tornar-se uma divisão de destaque pra TV, filmes, marcas dos mais variados produtos e ferramenta de medida da cultura pop em geral. Com o tempo, o "gênero" explorou diversos segmentos e mesmo em 2021 ainda pode ser visto com o mesmo tratamento recebido há 50 anos.
Grand Crew poderia ser classificada como urban considerando o uso arcaico do termo. O que ficou em destaque para mim com o piloto foi uma forma de explorar meio que uma quebra desse termo com o intuito de quebrar a divisão entre uma série de comédia urban para uma série de comédia “regular” vista na TV. Fica bem claro que os personagens foram escritos pra destacar diferentes estilos de vida, ideias e trajetórias mas que no fim das contas, mostram a diversidade com que (como qualquer outra raça), homens e mulheres negros podem representar. Tem o que chora, o que é engajado em causas sociais, tem os clichês, etc.
O piloto é bem didático e explora brevemente a vida de cada um dos personagens e o faz de forma bem sincera e natural. Não causa estranhamento. Os personagens são retratados como são e não ganham características de pessoas brancas. A diversidade em produções da TV ou do cinema pregam algumas peças no espectador e fiquei satisfeito em ver que isso não aconteceu no primeiro episódio. Quem aí lembra do Carlton Banks em Um Maluco no Pedaço? Acho que representa bem uma forma de colocar um ator negro interpretando um personagem basicamente branco nas suas falas e acoes, recurso utilizado por anos e anos numa forma de trazer diversidade às telas. Seria uma ferramenta de não chocar o público com a forma como que negros falam, se comportam e são representados na ficção. Graças a uma nova geração de roteiristas, muitos deles escrevendo seus próprios projetos e não dependendo de produtoras encabeçadas por executivos retrógrados, temos visto cada vez mais uma representação realista e palpável comparada ao que a gente vê na rua, nas nossas rodas de amigos e em situações em que vivemos com pessoas de cor. Grand Crew está aí para reforçar a mudança.
Acho que a série tem potencial pra melhorar e acho importante dar um tempo para o time de roteiristas e até o próprio elenco achar o “tom” que vai levar a série para um nível de qualidade maior. Por isso, mesmo com um piloto mediano, eu ainda recomendo assistir.
O que a série entregou: eu ri em alguns momentos e a série traz uns momentos meio “Todo Mundo Odeia o Chris” onde os personagens imaginam situações engraçadas que são apresentadas pro telespectador. Acho que deu pra se identificar com umas situações do episódio também.
O que não veio ai: como eu citei acima, eu acho que ainda leva um tempo para a série “dar liga”. Um feedback da audiência deve dar uma melhorada no rumo da série em breve.
Nota: 8,0