Escrito por: Pedro Rubens
Você pode conhecer diversas histórias de séries que já foram canceladas antes mesmo da exibição do episódio piloto, outras já chegaram ao cancelamento antes da conclusão das filmagens do primeiro episódio e dentre os muitos motivos que podem acarretar isso, está a necessidade de um episódio piloto fundamentado, consolidado naquilo que deseja apresentar mas que também convença não apenas o público como também os respectivos canais e/ou streamings a levar adiante aquela produção.
Run the World acompanha a história de quatro grandes amigas, que compartilham a vida e os desafios de serem mulheres negras vivendo no Harlem. Assim, ambas se ajudam mutuamente não apenas a enfrentar o racismo, mas também a combater uma sociedade machista. Juntas tentam prosperar e provar ao mundo a força da mulher negra.
E por mais que as produções com temática racial e protagonizadas por mulheres estejam tomando maiores proporções, mesmo que de forma lenta, a criação de Leigh Davenport ainda compõe a lista de séries que se arriscam ao ponto de ser um completo sucesso e cair nas graças do público ou enfrentar o futuro que tantas outras produções que terminaram sendo sucumbidas por não se calarem.
A narrativa do episódio piloto entrega momentos que levam o espectador a um misto de emoções, seja nos momentos de comédia ou indo para o drama mas sempre fazendo isso de forma equilibrada e sem perder o fio da meada, o roteiro é maduro o suficiente para encarar os seus próprios dilemas, tal qual o grupo de protagonistas.
Mas atrelado a tudo isso há uma constante tensão filosófica que habita as entrelinhas da série, seja pela acidez do seu humor ou pelo emocionalismo do drama. O roteiro encaminha o público a reflexão sobre o que é ser mulher e o seu papel na sociedade como um todo, mas também sobre seu papel individual e a importância do autoconhecimento e a busca por si própria.
Para chegar nesse ponto a série não tem medo de investir em si própria e aborda diversos dilemas cotidianos que por tantas vezes passam despercebidos. Isso talvez só aconteça dado a equipe por trás do show, que é em sua maioria composta por pessoas negras e que enfrentam constantemente aquelas situações que são apresentadas. Infelizmente a pesquisa realizada para a série já foi vivenciada na pele por aqueles que a criaram e protagonizam, o que traz ao show ainda mais robustez e força.
Run the World tem exatamente tudo o que um episódio piloto precisa e em doses milimetricamente pensadas: drama, comédia, trilha sonora impecável, iluminação que evidencia a força das mulheres que protagonizam a série e uma direção que sabe o campo minado onde está pisando mas que continuará avançando para entregar uma produção que encanta não apenas o público mas que continue a endossar a necessidade de mais séries como essa, em tantos outros canais.
Piloto - Nota: 8,0