Crítica - Dr. Death

Escrito por: Pedro Rubens

Criar uma história não é algo tão fácil quanto parece, e podemos ver isso constantemente em diversas obras. Mas adaptar uma história baseada em fatos reais talvez tenha um grau de dificuldade ainda maior, tendo em vista que não há total liberdade criativa, bem como não haverá domínio sobre aquilo que está sendo criado dado que os fatos já existem e precisarão ser apresentados ao público com a maior fidelidade possível.

Dr. Death, nova série do canal Peacock, conta a história do narcisista Dr. Christopher Duntsch, personagem de Joshua Jackson, que ficou conhecido pela sua rápida ascensão na comunidade médica, sendo considerado como um dos maiores neurocirurgiões, porém, por diversas circunstâncias sua carreira vai pelo ralo quando começa a mutilar seus pacientes, deixando-os com sequelas irreversíveis e até ocasionando a morte de alguns.

A história é desenvolvida em 8 episódios, que flutuam entre vários momentos da história do protagonista, desde a sua juventude investindo na carreira fracassada como jogador de futebol americano, transitando entre a relação com seu pai, um renomado fisioterapeuta, apresentando seus dias no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Tennessee, até o derradeiro momento em que o médico começa a ser investigado.

O roteiro se baseia na história contada no Podcast que dá nome a série, e curiosamente funciona na mesma proporção que a história: quando há algum caso que pode acelerar o processo contra o Dr. Death, o roteiro acelera dando ritmo a série; por outro lado, quando a politicagem dentro do do Conselho de Medicina dos Estados Unidos vem à tona e joga um balde de água fria nas investigações, o roteiro desacelera e consegue assim, seguir o mesmo ritmo das informações que são apresentadas.

Por outro lado, quando se trata das mudanças temporais para apresentar os fatos ocorridos na vida do Dr. Dunstch há certa confusão no roteiro, diante da quantidade de transições temporais que acontecem constantemente, demandando do público uma maior atenção, quiçá anotações, sobre onde cada personagem estava em dado período apresentado. 

O fato de cada episódio ser escrito por um roteirista diferente pode ter contribuído para essa confusão na apresentação dos fatos vividos pelo protagonista, mas o excelente trabalho da Maggie Kelly, Jennifer Morrison e So Young Kim, que dirigem toda a série de forma tão espetacular que elevam a qualidade do show ao ponto dos furos de roteiro chegar a ser minimizados, encarando a realidade dos fatos sem medo de ir fundo em cada personagem mas sempre respeitando o limite daquilo que, possivelmente, lhes foi permitido contar.

Por se tratar de uma série que tem uma ambientação dentro de hospitais e clínicas médicas, a fotografia opta por trabalhar com as cores primárias e constantemente fica evidente como a paleta de cores composta sempre por tons azuis, vermelhos e amarelos contrastam no branco dos hospitais, pintando algo visualmente muito bonito. 

Mas o que há de mais encantador na fotografia da série é como eles se utilizam da iluminação para dar vida ao show. Seja no momento onde a prioridade é a luz branca e apática dos hospitais, ou nos momentos de solidão e desespero do protagonista, sempre vai haver um foco de luz amarelado, quebrando a palidez e falta de cor, deixando as cenas mais robustas e fortes, dando vida a ambientação. Assista a série e veja como isso é incrivelmente lindo!

O elenco de peso composto por Joshua Jackson, Alec Baldwin, Christian Slater, Grace Gummer, AnnaSophia Robb, dentre outros, corroboram para que a série se consolide como uma das grandes surpresas do ano, com atuações que conseguem traduzir perfeitamente o que cada personagem está tentando passar, em seus mínimos detalhes.

Por fim, Dr. Death se propõe a apresentar uma série baseada em fatos reais e por mais que haja uma mescla entre ficção e realidade ainda assim consegue se manter como um bom show, seja em produção ou através de reflexões sobre medicina, justiça, amor, amizade e autoconhecimento.

Nota: 8,56