Quarry by

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Episodio 1x1 - Nota 9.5 2016-09-28 23:04:18

Os traumas da guerra, a dor que faz pesar a consciência de Mac, talvez porque ele tenha voltado ao Vietnã e só então, nesse retorno, arriscado o que entendemos por sua humanidade, deixam um peso maior em todas as decisões que tomam estando longe do conflito e do que ele poderia obrigá-los a fazer, a cumprir. De certa forma, estar em liberdade é ter de enfrentar os reflexos de suas ações em campo, das ações das quais se orgulhariam se não fosse a contraposição pelas que se envergonham. Gosto muito das cenas do universo de memória dele dentro da água. Faz imaginar como ele se sentia, afogado, quase refém de algo que parece maior que ele, as determinações a cumprir, o senso de dever para com a pátria e seu povo, do qual esses soldados/convocados eram convencidos.

Achei a duração necessária para que os personagens fossem bem apresentados, para que nos cativassem a ponto de sentirmos a morte de Arthur (já ia dizer Marlo), para termos uma ideia da relação entre eles, das dores que tiveram de aguentar na distância de casa e de seus amores. Mesmo assim, foi a segunda parte que me convenceu a acompanhar essa série e já alimentar ótimas expectativas sobre ela.

Episodio 1x2 - Nota 9.5 2016-09-28 23:35:51

Ser Quarry realmente não é fácil. Seu algoz acaba encontrando uma tradução exata para a personalidade do homem que caminhou de uma boa expectativa no retorno da guerra, com a esperança de encontrar sentidos mais bonitos para a existência (ao lado de sua esposa construir uma vida simples, mas sólida), para uma decaída completa, como se visse os pilares que o sustentaram no momento tão difícil, desabarem.

Eu tenho gostado muito da capacidade da série em tecer metáforas e brincar com o destino dos personagens, tudo temperado pelas atuações, pelos personagens que me cativaram ainda mais, pela beleza de trilha sonora.

O início do episódio, com Mac ouvindo a fita em uma indignação muda, o final com Joni relembrando como lhe jurara amor e cumplicidade; o sangue em suas mãos e ela escondendo a verdade dos policiais; as histórias se cruzando na investigação do policial e o (des)encontro dele com seu antigo colega, o amante que estava na lista de mortes... Os fatores vão se relacionando e prestando um sentido e um ritmo intenso, de emoções muito palpáveis, riscos sempre iminentes.

Episodio 1x2 - Nota 9.5 2016-12-05 08:08:50

heuehueheuheueh
tá gostando desse espetáculo de série, né? :3

Episodio 1x3 - Nota 9.5 2016-09-29 00:27:41

Diante de tanta desilusão e dos questionamentos sobre os sentimentos de solidariedade, empatia, afeto sincero, a série nos traz Buddy e o resgate das sensibilidades no meio de personagens endurecidos, embrutecidos, como a tradução aplicada a Quarry. As cenas com a mãe misturaram leveza diante do carinho, do amor que se nota tão facilmente em cada cuidado mútuo, com o peso dele estar se envolvendo em uma crise acerca de como conduz sua vida, de como se viu encarando o mundo, talvez pra fugir de algo, de si. Já torço bastante por ele e para que consiga deixar sempre presentes as marcas de esperança que, apesar das atribulações, vimos nos primeiros minutos do piloto, inclusive com ele mesmo, quando era um desconhecido pra Mac, dizendo que flores sempre vão bem.

Como contraponto, Mac se afundou em ressentimentos e na sensação tão dolorosa de ter perdido seu companheiro, base para seu retorno da guerra, e a confiança na esposa por quem demonstrara tanto afeto e acreditara na reciprocidade disso. Lidar com os traumas de tanta violência já se anunciava muito difícil, a exemplo de como teve um lapso com o cliente da oficina (que tratara as ações na guerra como necessárias e heroicas sem fazer ideia de como elas tinham um impacto negativo para as emoções daqueles que viram e provocaram tantas dores a outras pessoas, inclusive inocentes). Como se não bastassem esses conflitos morais e psicológicos, financeiros, o assédio do grupo de extermínio, a traição de Joni, ele ainda se vê à mercê da vingança de outrem, herança da escolha que fez ao assumir, com Arthur, as consequências de ser pago para matar. Creio que Mac ainda enfrentará conflitos em sua consciência por causa disso, apesar de ter sido encurralado para que aceitasse as encomendas. Espero que quando chegar esse momento, Buddy esteja ao lado dele.

Episodio 1x3 - Nota 9.5 2016-09-29 01:52:37

Ótima atriz, colaborando pra o crescimento de um personagem que já é tão querido. E eles tiveram uma performance muito convincente juntos.

Episodio 1x4 - Nota 9 2016-10-05 02:15:43

As coisas não podem acontecer como um mero acaso, dizia o homem que nem frequentava direito sua propriedade, não se importava mais com a piscina, mas achou de encontrar Mac, de ouvir sobre como seria simples consertar a bomba, entendeu como a gravidade ajudaria a drenar aquela água parada há tanto tempo, que parecia apenas esperar Mac voltar do Vietnã, ser chamado pelo Intermediário, ser perseguido com Joni para finalmente se desapegar daquele cárcere que era a piscina suja. A sequência desenhada, os personagens escolhidos, a narrativa consumada.

A relação de Mac e Joni sendo desnudada enquanto eles acertam contas e mágoas do passado, enquanto um vai entendendo o sentimento do outro, a angústia dividida, as fragilidades percebidas, assim como a capacidade de resistir.

Cada vez mais admiro essa resiliência de Mac mesmo depois de tantos conflitos físicos e psicológicos, morais, humanitários. Apesar da sensibilidade que lhe é inerente quando convém, dessa disposição em se doar, em ímpetos altruístas, acostumou-se a encarar mortos, embora eu desconfie que a morte em si lhe perturbe, mas não mais que o remorso em que se afunda sempre que se cobre de água.

Episodio 1x6 - Nota 9 2016-11-13 04:42:06

Esse enredo bem contextualizado vai elevando a série, celebrando um ritmo próprio, lento e envolvente, aprofundando a relação entre o indivíduo e o meio que o ajuda a compor as formas de encarar o mundo, ao mesmo tempo em que reafirma o caráter próprio, desafiador perante uma lógica tantas vezes cruel sobre o convívio com outras pessoas. Aqui, a empatia e a solidariedade despertadas em Quarry e na mãe de Buddy são retrato disso. De outro lado, o bairro de habitantes negros suscita os traços de revolta nem sempre contida. As referências a King são sempre bem-vindas, assim como a inevitável lembrança a Malcom X e as perspectivas combativas de sua luta.

A relação de Quarry e Joni merece essa estabilidade e esse apoio mútuo depois de tudo. É bom vê-los se acertando, apesar das dificuldades e das discordâncias perante alguns assuntos, inclusive pelo fato dela achar que falta um pouco mais de disposição para que ele salde a dívida sem precisar matar ninguém mais. Essa iniciativa de vender a casa, apesar de ser claramente um sacrifício pra ela, deve feri-lo um pouco mais, até como uma chamada à responsabilização que ele julga não ser necessária. Isso provavelmente suscitará mais conflitos, inclusive quando a investigação sobre a morte do amante se voltar a eles.

Gosto muito de ver Buddy e a mãe em cena porque sempre rende uma leveza contrastante com a atmosfera da série, apesar deles trazerem outras discussões doloridas. É triste vê-lo deprimido por não encontrar a felicidade que espera, envolvida em uma existência pacífica. Tem que trabalhar como assassino e isso o inquieta, incomoda e magoa. Torço para que ele consiga se emancipar, afinal. Parece mesmo que Quarry encontrou uma intimidade bem mais evidente com o papel que lhe foi cobrado.

Episodio 1x8 - Nota 9 2016-11-14 02:55:20

Isso, o personagem foi inserido já com essa explicação. Eu até imaginei, em algumas ocasiões ali, que ele tivesse se envolvido e criado sentimentos pela família. Ainda acredito nisso, apesar da cena com o menino. O que importa mesmo é que Quarry nos presenteou com ótimos personagens, ele estando incluído.

Episodio 1x8 - Nota 9 2016-11-14 03:28:40

Não imaginei que essa finale trouxesse tantas respostas seguida de uma virada calma, como o momento que anuncia a tempestade. Desde que o Intermediário foi revelado como o mandante do massacre onde Mac afundaria seu espírito no remorso, desde que entendemos que o porquê foi lucro e que os mandos de assassinato não tinham a ver com alguma justiça (com a possível exceção do racista), mas com a manutenção do sucesso nos seus negócios, a série evidenciou com bem mais intensidade um caráter pessimista não necessariamente sobre o espírito humano, mas sobre o que o meio e o contexto podem fazer dele. Exemplo maior disso é Buddy, de quem eu sou cada vez mais curiosa pra saber das razões de seu envolvimento com o Intermediário. Em meio a essa crise existencial que deixa entrever uma alma amável, ele ainda é dos mais competentes pra extrair informações com tortura, matar e escapar.

O pessimismo também está em Moses, de quem acabamos por esperar uma empatia mais sólida para com a família de Ruth e isso é um pouco frustrado depois que ele descobre o dinheiro. Ainda assim, acredito que Quarry traz, em doses pequenas mas não raras, as discretas redenções que convivem com os pecados constantes. Continuo com essa impressão sobre ele.

No mais, meu interesse por Quarry veio assim que terminei de ler a sinopse sobre um soldado que retornava do Vietnã e enfrentava problemas decorrentes de sua experiência na guerra. Criei expectativas sobre como a série ia desenvolver a contextualização, como os personagens secundários seriam construídos, como o protagonista escaparia dos clichês. E eis a primeira temporada acima do que imaginei, sem nenhum personagem que eu tenha considerado dispensável ou mal inserido em um enredo tão denso, tão cheio de pontas que até agora foram amarradas de uma maneira didática e ao mesmo tempo instigante, surpreendente até.

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