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Ramy By LucaSP





Episodio 1x1 - Nota 8 2020-07-26 00:16:49

Piloto muito interessante. O ponto que eu mais gostei é como o roteiro pega pontos da realidade de um americano muçulmano e os aborda de uma forma que se encaixe em muitas outras realidade. Por trás do teor religioso que aparenta existir, o episódio trouxe uma discussão sobre a pressão de arranjar um relacionamento e os julgamentos que colocamos em cima de outras pessoas, mas que não gostamos quando estes são dirigidos a nós. Isso é identificável em um nível que transcende o contexto da série.

A série tem essa pegada protagonista imperfeito, porém que, de tão desajustado, consegue se criar simpatia no público que eu particularmente gosto bastante. Remete um pouco a Master of None, mas para mim, ela parece se inspirar mais em Louie. Aquela cena do encontro no restaurante, parece muito ter saído de lá.

Episodio 1x4 - Nota 9 2020-07-26 13:10:41

Episódio extremamente forte. A história de um garoto de 12 anos que só queria ser visto, tratado e fazer coisas como um garoto de 12 anos. Um garoto que só queria pertencer a um país que, de repente, o rejeita. A cena do juramento à bandeira é tão simples, mas tão simbólica. Ramy tendo que jurar lealdade a uma nação que, na primeira oportunidade, o abandonou.

É interessante ver como a onda anti-muçulmana atingiu ele de n formas, fazendo-o até mesmo questionar se não seria um terrorista - afinal, na visão dos americanos, todos eram - o que leva a brilhante cena com Osama.

"What about Fatima's mom? And Khalid's mom? And thousands of moms that have died in the Middle East?" Como é dito durante essa sequência e talvez seja a mensagem central do episódio: os EUA só se importam com seus morangos.

Episodio 1x6 - Nota 8.5 2020-07-27 12:25:32

Episódio mais engraçado da série até agora, mas também com uma abordagem bem profunda de certos temas. Ri alto, por exemplo, da cena que Dena sonha que a família inteira entra no quarto no meio da transa. Da mesma forma, o episódio tratou muito bem a diferenciação entre tratamentos que ela e Ramy recebem pela família. A cena que ela confronta o tio é ótima.

No entanto, a melhor parte é ficou para o final, com o episódio trazendo à tona algo bem importante: a fetichização de mulheres não-brancas. A cena com o barista até começou levemente engraçada, mas passou logo para o lado constrangedor e, seguido, do preocupante, com ele tratando Deana como se fosse uma conquista exótica para lista dele, fazendo de tudo para extrair algo sexy do fato dela ser de outra etnia. O final exemplifica muito bem o quanto isso é problemático, à medida que Dena termina o episódio tão sozinha e desiludida quanto ela começou.

Episodio 1x9 - Nota 9 2020-07-28 12:40:17

Em mais um excepcional episódio da temporada, acompanhamos Ramy saindo da América e indo ao Egito, a fim de se reconectar com suas origens e cultura e acabando se encontrando novamente nos EUAs. O idioma, as expressões, as referências, as discussões sobre Hillary e Trump, tudo que poderia se esperar em um país visto em outro, em uma ótima crítica ao Imperialismo cultural.

Muito pesada a cena que dá título ao episódio. Enquanto Ramy foi atrás do país de origem da sua família, Shadi e o restante, que tiveram que viver na pele uma realidade completamente diferente da do protagonista, apenas querem escapar desse país, metaforicamente falando. O final, em uma ótima ironia, mostra muito bem o que Ramy conseguiu em sua jornada espiritual: uma diarreia.

Episodio 2x2 - Nota 9 2020-07-29 13:09:24

Um retrato de como na guerra não tem lados vencedores. É sempre pesado ver sendo representado esse estresse pós traumático dos soldados após a guerra. Eles se alistam pois são doutrinados a pensarem que o país precisa deles e que serão heróis se o fizerem e voltam com o psicológico ferrado e sem perspectivas de se reinserirem na sociedade. Dennis era uma bomba-relógio perto de explodir. Pelo menos foi com os manifestantes lá fora e não lá dentro.

É importante salientar que não foi ele ter se convertido ao Islã que fez ele agredisse o cara e sim as memórias da guerra que o engatilharam naquele momento. Ele provavelmente nem acredita nos valores da religião e se converteu por se sentir que devia isso para Ramy e os demais que lhe ajudaram quando o próprio país o virou as costas.

Episodio 2x6 - Nota 9.5 2020-07-30 13:17:50

Maysa protagonizou duas obras de arte em forma de episódio. A primeira, "Ne Me Quitte Pas", na temporada inicial, e esse daqui, o qual é provavelmente o meu episódio favorito da série. Muito lindo como a trajetória da personagem é construída, a ponto de que eu consigo me apegar a personagem e ao mesmo tempo repudiar certos comportamentos.

Ela é de uma geração em que os valores que lhe foram ensinados estão ficando ultrapassados e tem dificuldade em se adaptar esse novo mundo que se abriu diante dela. Para atrapalhar ainda há barreiras culturais e até linguísticas*, como uso do "They", que ela associa ao plural, que a atrapalham nesse processo de aprendizagem. Mas, como Dena falou, não é ignorância seu maior problema e, sim, a necessidade de externar tudo o que pensa - o que não deixa de ser algo da geração dela. E isso é complicado porque não tem como ensiná-la a não ser assim.

Achei incrível o fato que o episódio conseguiu explorar bem os dois lados da situação, não só o de Maysa. Ao mesmo tempo que se torce que ela consiga reverter a queixa, não dá para não entender o ponto de Sophia - que, no fim, nem era responsável pela reclamação. É extremamente exaustivo ter que corrigir tudo que uma pessoa fala. Não tem como esperar que ela aprenda sozinhas coisas a respeito de uma realidade que não é dela, mas o esforço e perseverança que se exige para repassar suas vivências a alguém que não conhece nada a respeito delas nem sempre compensam. É por isso que representatividade importa. É por isso que essa série importa.

*isso que no inglês a situação é extremamente mais fácil que no português, uma vez que They também é utilizado no singular para se manter neutro a respeito o gênero e a maioria das palavras não possuem flexão de gênero. Se a história de Maysa se passasse no Brasil, a situação seria completamente outra - e, provavelmente, não acabaria com final feliz.

Episodio 2x10 - Nota 9 2020-07-31 13:31:18

Fechando muito bem o arco de Ramy desta temporada, essa season finale mostrou bem como, na ânsia de ser um bom muçulmano e seguir tradições, o protagonista embarcou em uma jornada espiritual que beira a um egocentrismo, machucando inintencionalmente as pessoas ao redor para tentar obter uma paz consigo mesmo.

Esse casamento era um erro desde o princípio. Ramy não estava apaixonado por Zainab, apesar de nutrir um afeto por ela. Ele apenas se casou pois ele queria seguir o que achava ser certo e sabia que a relação com a prima não seria bem vista. Não consigo sentir raiva do personagem, pois ele reflete muito bem como as religiões operam. Elas estabelecem padrões e criam sentimento de culpa naqueles que não conseguem segui-los. Acho interessante terem trazido a questão do Dennis de volta nesse episódio, pois foi outro exemplo de pessoa que Ramy machucou, mesmo sem intenção. Ele quis fazer uma boa ação e colocou o ex-soldado em um ambiente que trazia memórias traumáticas à tona. Resultado, duas vidas acabadas – a do Dennis e do cara que ele matou.

O que Ramy deveria pensar é que, antes de ser um bom muçulmano, ele deve tentar ser uma boa pessoa. Fazer coisas que o façam sentir bem com sua fé ainda podem ter reflexo negativo nos outros e, ao tentar justificar isso como “um plano maior de Alá”, o protagonista apenas se eximi de arcar com as consequências de suas ações.

Episodio 3x2 - Nota 9 2022-10-23 10:31:25

Um dos episódios mais engraçados da série. Ramy não passou cinco minutos sem meter os pés pelas mãos e criar algum momento constrangedor, normalmente por se mostrar alguém desconexo à realidade. A sequência dele tentando explicar o congratulations foi hilária.,

O modo como o passaporte americano é usado como se isso garantisse direitos ao protagonista em relação aos demais palestinos foi muito bom, o que leva ao segundo ponto essencial desse episódio. Por trás de todos os momentos vergonha-alheia de Ramy aqui, há uma realidade extremamente angustiante. É uma região ocupada por forças militares e uma população aprisionada como se fossem os criminosos. É engraçado ver Ramy conversando com a garota e ela perguntando se ele acha que ela não conseguiria encontrar ninguém melhor, porém também é um sintoma de uma realidade completamente distorcida. E é algo que o protagonista só vem a perceber mesmo no fim, ao presenciar a ação militar na prática.

Ele estava errado e tinha roubado a bicicleta do garoto primeiro, mas isso não importa a partir do momento que ele tinha algo que os demais garotos não tinham: um passaporte americano. Durante todo o episódio, isso é citado quase como uma piada, mas o fato é que se Ramy não tivesse isso poderia ser ele no lugar dos garotos.

O episódio é um misto entre explorar o absurdo de uma forma cômica e dar um soco no estômago do público com seu final ao mostrar que, por mais absurdo que seja. aquilo é a realidade de um grupo de pessoas. A metáfora com os cigarros foi genial.

Episodio 3x5 - Nota 9 2022-10-23 12:45:51

Um episódio de Dena e Maysa lidando com suas frustrações com a vida e o sentimento de impotência que as cerca. Uma sente o peso de estar envelhecendo e consequentemente pressiona a filha para não desperdiçar sua juventude. A outra ainda está buscando um propósito e rumo, tentando ajudar outras mulheres imigrantes, mas sem ter exatamente como.

Tarek surge nesse meio entre as duas. Ele é exatamente o que Maysa espera para Dena, em termos de seguir a tradição, mas também é o que ela queria para ela mesma, alguém interessante, que as escutasse. Para Dena, ele é o oposto. Alguém que não é tão preso a religião e que pode ser vir como escapismo de uma noite. Ambas veem ele como uma fuga para descontar suas frustrações, mas na realidade ele não é o que elas projetaram nele. Pesada aquela cena pós-sexo entre ele e Dena. Ela queria se sentir bem após ter estragado tudo com a cliente, mas acaba saindo de lá mais para baixo e sem ter estudado para o exame que deveria. No fim, sobra ela ajudar da única forma que ela pode no momento.

Episodio 3x9 - Nota 9.5 2022-10-23 16:17:02

Dos melhores episódios desse ano.

"He was my sugar baby! That's it. I was just helping him out, okay? I gave him a little bit sugar. I wish someone gave me sugar when I was younger. I came to this country, and everyone treated me like shit. It was just some sugar. [...] I live a good life. I work hard. I even paid all of my taxes up untill 2014. But it doesn't stop! It doesn't stop! It fucks everything. I don't understand. It pesters inside me. I don't know what it is. It's not me. Its not me, but it controlls all of me!"

A capacidade dessa temporada de explorar o absurdo é impressionante. Tudo começa puxando para o cômico, com situações surreais e propositalmente exageradas, até chegar em um ponto em que elas se tornam reais - dolorosamente reais, diga-se de passagem. Esse plot do Naseem é o perfeito exemplo disso. Aqui, inicia com uma paranoia com toques de comédia, até que vai ficando mais profundo, denso, dilacerando mais camadas e culmina na conversa com Dena, onde se torna desconfortável de ver. Simplesmente, devastador.

O resto do episódio não ficou atrás desse plot e conseguiu muito bem dar continuidade ao que vem sendo trabalhados nessa temporada. O monólogo de Ramy sobre tentar ser uma boa pessoa mas acabar fazendo tudo errado também foi dos melhores textos que a série apresentou.

Entre todos os absurdos vistos nessa temporada, o maior deles definitivamente é a média dela aqui.


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LucaSP

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