The Deuce by LucaSP

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Episodio 1x1 - Nota 8.5 2020-07-26 01:07:00

É completamente compreensível a duração do episódio se for reparar o número de personagens e núcleos que foram introduzidos logo de cara - acho que mais que qualquer outra série do David Simon. Mais de 80 minutos é um tempo bem razoável para poder dar um norte para tantas tramas vistas aqui - e eu, particularmente, mal senti o episódio passar.

Legal como, mesmo os plots sendo distintos entre si, eles vão se cruzando e costurando de alguma maneira no decorrer do episódio, criando um sistema orgânico que é bem característico das obras do Simon. Outro ponto bem marcante de suas produções é como o cenário acaba ganhando destaque, quase compondo uma personagem a parte, apresentando uma realidade crua e não glamourizada - refletida até no esquema de cores utilizado - de Nova Iorque no início dos anos 70.

Episodio 1x4 - Nota 8.5 2020-07-26 15:10:50

Muito interessante como Abby é uma personagem que parece e procura sempre estar no controle da sua vida. Ela faz o que quer, dorme com quer, vive em busca de uma certa emoção para vida, ou seja, tudo que as demais personagens femininas na série não tem o luxo de ter. Enquanto ela usufrui de uma emancipação, as outras estão buscando a sua - ou, pior, conformadas que nunca a terão. Acredito que a aproximação entre ela e Darlene não foi apenas para acentuar a diferença entre a realidade das duas.

Do resto, o episódio foi de Maggie Gyllenhaal. Uma Eileen desmotivada, que reflete em uma Candy apática e sem rumo. O cansaço com a profissão, que suga sua juventude, ao mesmo tempo que tem que lidar com um cliente morrendo com ela e as piadas decorrentes disso. A necessidade gritante de uma mudança nos rumos, mas a falta de uma perspectiva que a motive. Enfim, vem sendo a trajetória mais interessante até agora.

Episodio 1x7 - Nota 9 2020-07-27 14:40:23

Eu tenho impressão que, ao contrário de outros realizadores, quanto mais plots David Simon acrescenta em suas histórias, melhores elas ficam, afinal mais natural é seu desenvolvimento e o resultado final é mais orgânico, já que todos os núcleos se influenciam entre si e desenrolam em conjunto. Esse excelente episódio mostra bem isso, uma vez que eu não sei se seria tão bom se não tivesse sido tão recheado de tramas interessantes, além de que uma acaba tendo alguma influência sobre a outra, logo não há um elo que poderia ser retirado sem alguma perda para a narrativa.

Muitos núcleos sendo desenvolvidos ao mesmo tempo e todos continuam muito bons. A prostituição, a indústria pornográfica, a corrupção na polícia - não seria uma série de Simon sem isso - e no meio disso cada uma das várias personagens em suas próprias trajetórias. No meio de tudo isso, a catarse, nesse sentido, vem em pequenas doses, como quando Leon se revolta contra o cafetão - algo que é gradualmente construído no decorrer do episódio - ou Ashley deixando New York. E que cena irônica ela feliz deixando a cidade, com a placa de bem-vindo atrás. Muito se construiu essa imagem que é a cidade onde os sonhos se realizam, o que atrai milhares de pessoas que assim como ela dão de cara com uma realidade diferente dessa fantasia. No caso, a melhor coisa que poderia acontecer para personagem era justamente deixar aquele "sonho" para trás.

Episodio 2x2 - Nota 8.5 2020-07-28 14:05:01

Continuando o trabalho da premiere - e até sendo mais eficiente que ela neste aspecto - esse episódio segue muito bem contextualizando a mudança de época e como as mudanças no cenário afetam as personagens da série - o meio influenciando o indivíduo, ao pé da letra. A primeira cena exemplifica bem isso, com Larry tendo dificuldade em recrutar garotas, ao passo que elas já chegam à cidade sabendo o que as esperam, em busca de uma carreira nos filmes adultos. Logo, partindo disso, ele vê a necessidade de se adaptar procurando outro ramo.

O retorno de Ashley foi uma sacada sensacional. Parece que a temporada trará um foco para as mulheres ganhando mais espaço e voz. Esse plot da Abby reflete bem isso, bem como o da Lori e mesmo Candy, que cada vez mais estão alçando rumos maiores na indústria.

Episodio 2x6 - Nota 9 2020-07-29 15:27:41

O contraste de como a reação é diferente quando é um branco correndo atrás da mulher pela rua - as pessoas aparecem para ajudá-la é rapidamente explicado que se tratava de um filme, elas entendem e até ajudam na gravação - e quando é um negro - a polícia aparece imediatamente, o agridem e o levam preso, mesmo sendo explicado que era tudo encenação. Gosto muito da capacidade do roteiro exemplificar essas diferenças sem a necessidade de desenhar através de diálogos expositivos. Não é preciso aparecer alguém dizendo "é racismo", simplesmente deixam as duas cenas para o telespectador comparar.

De maneira geral, foi o melhor episódio episódio da temporada até o momento - plot do filho do Bobby, que ficou um tanto deslocado, à parte. Estou gostando, muito mais que imaginaria, de como a relação entre Vincent e Abby vem sendo trabalhada. Iniciaram a temporada quase em lua-de-mel e cada episódio estão se afastando mais. Muitos vêm nela uma hipocrisia, mas eu acredito que o que ela está passando é justamente mais uma etapa de se questionar que ela deve assumir apenas um lado e não ficar no lado das garotas, enquanto se mantém neutra com o outro e Vincent faz negócios com a máfia. É interessante terem colocado justamente esse casal para centrar a série, servindo de ponte com os demais plots.

Episodio 2x8 - Nota 9 2020-07-30 14:36:53

O episódio foi todo construído testando os limites da repulsa que o público poderia sentir de C.C. Primeiro, vendeu a Lori. Depois a estupra como um presente de despedida, atingindo o fundo do poço no quesito repugnância. A sacada genial do título é que o episódio nos guia a tirar qualquer traço de humanidade que o personagem poderia ter, o tornando um "ninguém". E como é dito: "ninguém" deve se machucar.

Gosto muito que David Simon sabe desmistificar essa questão da morte de personagens importantes. Não é porque C.C era o mais próximo de um vilão na série que a sua morte deveria ser um evento, ou com ele sofrendo bastante ou vindo de um modo épico. No final, na hora de morrer, todos são apenas mais um. Nada de dignificação nessas horas.

"Baby they have to pretend. They're the ones in a box. You're free." Gostei muito como esse diálogo de Paul para Todd reflete e diz muito sobre o plot do Gene, que nem é diretamente ligado a esse núcleo, mas que vive exatamente a situação descrita pelos dois personagens. A forma como tudo parece estar amarrado na série é, sem dúvidas, sua melhor característica.

Episodio 3x2 - Nota 8.5 2020-07-31 15:59:05

Se o primeiro ano foi sobre as personagens encontrando seus objetivos e o segundo foi pautado nelas os alcançando - Paul abrindo o bar, Eileen conseguindo espaço na indústria pornográfica, Lori se livrando de C.C. e fazendo sucesso e assim por diante -, esse último parece que virá para fechar o ciclo, com cada uma tendo que lidar com a dura realidade que as cercam e um possível declínio dos seus sonhos.

A epidemia da AIDS, Candy não tendo tanta liberdade no trabalho - ainda que pareça estar se acertando na vida pessoal -, Lori com a questão do vício. Prevejo alguns finais amargos pela frente.

Episodio 3x5 - Nota 9.5 2020-08-01 11:34:33

O episódio mais emocional (e emocionante) da série até hoje. Por duas temporadas, o público acompanhou, torceu e vibrou a cada conquista de cada personagem. Foram duas temporadas para se simpatizar com elas. Tudo para chegar nessa e colocá-las em uma espiral descendente, pautada com muita angústia e sofrimento. Acaba tendo um resultado tocante pois a série permitiu que fosse ao deixar que nos apeguemos àquelas histórias.

"You Only Get One" foi um episódio sobre família - Vincent lidando com a perda do irmão, Eileen e o filho, Tod com os pais e Paul ligando para o seu - e também sobre como as escolhas que as personagens tiveram que fazer - entenda-se: foram guiadas a fazer - de algum modo as levaram para onde estão. Lindo o diálogo de Harvey e Eileen e como ele se encaixa com o plot da Lori, no qual vemos ela, aos poucos, desaparecer. É uma ligação tão clara, mas feita de uma forma que não precisa deixar escancarada que existe essa conexão. Lori existe no núcleo dela, Candy está no seu, mas um complementa o outro - como tudo na série, por sinal.

Episodio 3x8 - Nota 10 2020-08-02 12:47:51

Junto com Six Feet Under, The Leftovers, The Americans e The Good Place, esse está no meu top 5 de series finales. Pode parecer um tanto cedo para dizer isso já que acabei de terminá-la, porém pouquíssimos episódios de televisão mexeram comigo como esse o fez. The Deuce é uma série em que os momentos catárticos estão distribuídos ao longo das temporadas e não centrados em um episódio clímax, entretanto, esse aqui foi, sem dúvidas e sobre qualquer aspecto, o ápice do seriado.

Do diálogo entre Alston e Gene no carro à caminhada final pela Times Square, não faltaram cenas icônicas, sendo essa última uma das melhores que eu já vi na vida. Não houve final feliz, não houve final digno, não houve final glamourizado. Toda a história daquelas personagens, que nos apegamos e torcemos, foi varrida para debaixo do tapete junto com os problemas da cidade - que, como bem salientado no episódio, não deixaram de existir, apenas mudaram de endereço. A única lembrança deles que resta é a de um Vincent, que anda pela rua, outrora seu lar, apenas como mais um em uma multidão. The Deuce foi uma série sobre Nova Iorque e sobre os sonhos que ela construiu e destruiu. Nada mais coerente que se encerre focando nela.

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LucaSP